IRENE GUERRIERO (n.1964, Brasil), vive e trabalha em São Paulo.

 

Graduada em Artes Plásticas pela FAAP (1988), recentemente fez cursos livres com Paulo Pasta e Hermes Artes Visuais. 

Sua poética é centrada na pesquisa de relações cromáticas e compositivas em formas orgânicas derivadas de elementos vegetais, a partir dos quais constrói paisagens imaginárias em pinturas e colagens. Em um planeta à beira de uma crise ambiental irreversível, propõe um olhar atento sobre o mundo vegetal, com vidas aparentemente frágeis, mas que mostram uma força sutil inspiradora. A capacidade notável das plantas de adaptar, sobreviver e florescer, independentemente do que o mundo lhes reserva, nos faz refletir sobre a conexão entre a natureza e nossa própria existência.

Participa de exposições individuais e coletivas em espaços como Paço das Artes, Funarte SP, MARP (Museu de Arte de Ribeirão Preto), Museu da Diversidade Sexual, Centro Cultural São Paulo, ArtSampa – Oca Ibirapuera, Interações 4 para SP-Arte, Ch.ACO (Feira de Arte Contemporânea do Chile), Fábrica Bhering no Rio de Janeiro, Casa de Portugal em São Paulo, Lona Galeria, entre outros.

Seu trabalho faz parte do acervo do Museu da Diversidade Sexual em São Paulo e de coleções internacionais privadas.

 

IRENE GUERRIERO (b.1964, Brazil), lives and works in São Paulo.

 

Graduated in Fine Arts from FAAP (1988), she recently took free courses with Paulo Pasta and Hermes Artes Visuais. 

Her poetics are centered on the research of chromatic and compositional relationships in organic forms derived from plant elements, from which she constructs imaginary landscapes in paintings and collages. On a planet on the brink of an irreversible environmental crisis, she proposes a close look at the plant world, with apparently fragile lives, but which show an inspiring subtle strength. The remarkable ability of plants to adapt, survive and flourish, regardless of what the world has in store for them, makes us reflect on the connection between nature and our own existence.

Participates in individual and collective exhibitions in spaces such as Paço das Artes, Funarte SP,  MARP (Museu de Arte de Ribeirão Preto), Museu da Diversidade Sexual, Centro Cultural São Paulo, ArtSampa – Oca Ibirapuera, Interações 4 para SP-Arte, Ch.ACO (Chilean Contemporary Art Fair), Fábrica Bhering in Rio de Janeiro, Casa de Portugal in São Paulo, Lona Galeria, among others.

Her work is part of the collection of the Museum of Sexual Diversity in São Paulo and private international collections.

 

 

 

 

Exposições

Funarte SP (2023)
A natureza fala muitas línguas

“A floresta das costas do céu é excepcionalmente rica em caça e repleta de árvores frutíferas, garantindo aos espectros uma vida de festas e abundância, a ponto de poderem às vezes deixar cair um pouco desse ‘valor de fertilidade’ (në rope a) para os vivos que não o possuem.”Bruce Albert, Um mundo cujo nome é floresta em O Espírito da Floresta, Companhia das Letras, 2023

Sempre demora demais para que os avisos e a consciência coletiva despertem para as questões fundamentais e vitais do nosso planeta. O meio ambiente vem sofrendo há muito no que tange às explorações e violências contra a natureza. A explosão demográfica pouco previu para que os recursos naturais assim como os cuidados para com o consumo e os descartes fossem direcionados com parcimônia e inteligência para uma melhor qualidade de vida. Os povos originários, através de seus líderes, vêm alertando dos perigos do esgotamento, mas as grandes potências e grupos econômicos mundiais fazem vista grossa para tantos perigos. Iniciativas coletivas e organizações variadas procuram levantar as bandeiras da urgência, promovendo movimentos e ações internacionais na luta contra os descasos ambientais. No campo da arte o gênero da paisagem sempre foi motivo para a apreciação e produção de imagens potentes onde artistas interpretam inúmeras visões, matizes de cores e formas que o planeta, esplendoroso que é, por si nos oferece.

Dito isto, nos adentramos com deslumbramento nas construções pictóricas da artista Irene Guerriero. Suas pinturas sugerem uma coreografia vegetal, em movimentos desritmados. Centrada em uma pesquisa de relações cromáticas e compositivas entre formas orgânicas derivadas da natureza, sua poética observa a evolução da vida das plantas, sem buscar exatamente a representação botânica, mas nas formas que emergem do diálogo com a superfície do trabalho, sendo sobre papel ou tela, e tendo sua intuição como farol. “Não há um mapa predeterminado, tudo vai acontecendo durante o processo” diz Irene usando de cores fortes e puras que remetem ao psicodelismo dos anos 1960, assim como à estética da música, especialmente dos Beatles e do movimento tropicalista brasileiro, quando também a televisão e o cinema serviram de estímulos em sua infância, formando seu repertório visual, corporificado na pintura e na colagem. O recorte funciona como uma delimitação de campos e a domesticação da composição. Sua visão da natureza reconstrói a diversidade da vegetação, em uma linguagem delicada e quase silenciosa, que fala com todos e “que louva e reverencia a natureza como sagrada em um momento que o planeta está numa crise ambiental irreversível”, afirma a artista. Usando o branco, os espaços vazios são de respiro, como se ela pudesse curar ou melhorar a ansiedade do mundo. Como se as línguas fossem várias, mas todas compreensíveis, seu trabalho fala para todos aqueles que procuram o equilíbrio e harmonia suave de uma boa composição.

Renato De Cara
Agosto de 2023

Lona Galeria (2022)
Caleidoscópio

A imagem do jardim é comumente associada a estados de contemplação, serenidade e reflexão. Religiões se referem a este tipo de ambiente como lugar sagrado – na tradição judaico-cristã, o Éden é o jardim onde o casal primordial vive uma existência de plenitude; no budismo, o jardim zen funciona como um local de meditação; no islamismo, aqueles que obedecerem aos ensinamentos de Alá serão recompensados com uma vida eterna de repouso, sabores e vivências num jardim paradisíaco. Na filosofia, o jardim tem destaque como local de autoaperfeiçoamento e elevação – era num jardim que tanto Platão quanto Epicuro reuniam seus pupilos para refletirem sobre o mundo e as diversas formas de existência contidas nele. O jardim oferece uma oportunidade de encontro com a natureza, mas uma natureza modificada, domada, projetada. Cabe lembrar que a palavra “cultura” tem origem no cultivo da terra para a produção de alimentos, posteriormente estendida para se referir às produções simbólicas das civilizações. Portanto, a experiência do jardim é o exercício de transformar a natureza a partir das vontades humanas.

Para Irene Guerriero, o jardim é inspiração, mas sua abordagem do “modelo” não visa a representação. A artista observa o todo e concentra seu olhar nos detalhes das formas, como um zoom. Este procedimento de análise se relaciona com seu processo criativo de modo indireto, ao recombinar na superfície formas abstraídas daquelas que atraíram sua atenção. É como se Irene recortasse da paisagem as formas que lhe interessam e as dispusesse diante de si num quebra-cabeça sem arranjo pré-definido. Recortar, aliás, é algo que ela faz com bastante frequência, estando a colagem presente em quase todos os seus trabalhos.

Suas composições são construídas aos poucos, sendo orientadas pelo próprio ritmo do processo, empiricamente. O resultado não emula plantas reais e nem busca a perspectiva. Irene abraça a bidimensionalidade da superfície e lhe adiciona recortes de padrões lisos ou estampados, por vezes deixando o enrugamento do material evidenciar a existência de camadas sutis. Nesta mostra, exibe seu primeiro objeto tridimensional, Enlaces (2021), feito em metal, no qual ela exercita o corte no próprio material, mas mantendo sua linha de pensamento sobre as formas bidimensionais, como uma pintura que escapou da moldura. Nas telas e papéis, elementos alongados que lembram algas ou lianas aparecem com frequência, dando movimento ao conjunto que, pairando sobre fundo branco, não deixa dúvida sobre sua qualidade de cena imaginária.

A atenção concentrada em poucos elementos de cada vez talvez explique a inclinação da artista para os polípticos. Neles, há um desdobrando de seções (seja do centro para as bordas ou das bordas para o centro), em que Irene multiplica imagens numa espécie de caleidoscópio indomado, pois nenhum fragmento é igual a outro. As formas orgânicas, características de sua produção, ultrapassam os limites dos quadrantes e mesmo as extremidades do trabalho, como se pudessem continuar crescendo indefinidamente. São composições com respiros e, portanto, transpiram serenidade, mas não são, de modo algum, estáticas – parece sempre haver a possibilidade de que, caso lhes fosse dada a opção, as formas recusariam o confinamento do retângulo e se expandiriam para ocupar o espaço, recobrando o domínio da natureza sobre a civilização. Aqui, ao que tudo indica, Irene lhes deu uma mão.

Sylvia Werneck
Setembro de 2022

Museu da Diversidade Sexual – SP (2020)

Exposição coletiva Ressetar
Curadoria: Duílio Ferronato